Sofia Rodrigues

Nutricionista

Sofia Rodrigues

Nutricionista

O Ciclo da Dieta

O Ciclo da Dieta (Dieting Cycle ou “dieta iô-iô”) é o nome que se dá ao vai e vem do peso que, além de quilos a mais, provoca sérios desequilíbrios físicos, metabólicos, psíquicos e emocionais! O início deste ciclo ocorre com um forte desejo para perder peso o que, por vários motivos, faz com que as pessoas diminuam drasticamente (restrição) a ingestão de alimentos – passam fome – passando a agir no “modo salada e sopa”, ou seja, folhas de alface ao almoço e sopa de água com coentros ao jantar. Às vezes ainda comem uma peça de fruta, mas só maçã ou pêra – porque o melão e a banana engordam… Ah e pão, esse maldito, nem pensar! Aliás, o melhor é mesmo cortar nos hidratos de carbono e corta-se o mal pela raiz!

Esta restrição alimentar, por sua vez, provoca um enorme sentimento de privação. O corpo humano está desenhado para consumir uma série de alimentos e precisa de determinadas quantidades de nutrientes para poder desempenhar as suas funções adequadamente. Ora, quando os alimentos e os nutrientes são negados durante um certo período de tempo, o organismo defende-se e surgem, assim, pensamentos contínuos sobre a dieta e os “alimentos proibidos” (principalmente sobre os que transbordam gordura e açúcar – gelados, bolachas, salgados, chocolates, bolos com creme, entre outros). Surge uma “vontade” imensa (um apetite enorme) de comer, comer tudo o que nos apetece. O problema é que não se consegue controlar esta vontade durante muito tempo e, assim, cedemos e devoramos o que nos aparece à frente – temos um episódio de compulsão alimentar(consumo muito excessivo e descontrolado de comida, por norma, muito gorda e açucarada). A dieta acaba aqui mas não acaba sozinha… traz consigo os sentimentos da culpa, da derrota, da incapacidade, da ineficácia e da incompetência!

Atualmente, com o acesso facilitado a todo o tipo de informação, a confusão à volta do mundo da alimentação e nutrição é gigantesca. E, em muitos casos, as pessoas sentem dificuldades em escolher o que devem comer. A situação piora um pouco quando, se alia a toda esta informação e contra-informação, as estratégias de marketing da indústria que vive à conta do emagrecimento. A pressão social para a magreza e o culto do corpo é enorme, mas será que é saudável? E será que, enquanto seres livres nos devemos subjugar a essas campanhas que só prejudicam a nossa saúde?

Temos todos que ser magros? Ser magro significa ser mais bonito? Quem é que definiu isso? Será que ser magro é sinónimo de ser saudável? Quantas estratégias terríveis se usa para se ser e manter magro, seco, sem ponta de gordura? Tabaco, cocaína, vómito, drenantes, laxantes, água destilada, dieta do algodão? Sim, leu bem, dieta do algodão. Saudável? Quem?

Uma colega brasileira, Sophie Deran (nutricionista) fala de terrorismo nutricional quando se refere a tudo o que acontece à volta do negócio das dietas e do emagrecimento e afirma “Restringir alimentos virou moda. Restrições alimentares significam, popularmente, “ser saudável”. As dietas zero glúten, detox e zero lactose passaram a ser sinónimos de identidade. E, sendo assim, as refeições adquiriram status de “boa” ou “má”, como se houvesse um anjo ou diabinho alimentar proibindo ou permitindo o que comer. O ato de se alimentar deixou de possuir um caráter nutritivo, prazeroso e afetivo, tornando-se algo mecânico e artificial.”

A área da nutrição e do emagrecimento são áreas de negócio apetecíveis para muitas indústrias (suplementos dietéticos/alimentares, chás, dietas X, Y e Z, batidos, barras proteicas/energéticas, refeições prontas) e o emagrecimento vive à custa da venda de produtos inúteis! Todos os anos, entre março e junho, abre oficialmente a “época da Dieta Rápida”. A chuva torrencial de produtos especiais, comprimidos milagrosos, últimos gritos da ciência, métodos revolucionários e outros têm como único objetivo o emagrecimento da sua carteira. Se necessitar (ou quiser) perder peso, é importante perceber que é preciso trabalhar para isso, a curto, médio e longo prazo e o primeiro passo é, na minha opinião, escolher um profissional de saúde habilitado que lhe prescreva uma DIETA SAUDÁVEL capaz de lhe fornecer todos os nutrientes necessários para perder peso de forma responsável, sustentada e sem prejudicar a sua saúde.

Sofia Rodrigues, nutricionista (2071N)